A morte de crianças e adolescentes pela Polícia Militar de São Paulo cresceu 120% no governo Tarcísio de Freitas, de acordo com um levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O aumento da letalidade coincide com discursos contrários ao uso de câmeras corporais e mudanças nos mecanismos de controle do uso da força.
Em 2024, 77 jovens de 10 a 19 anos foram mortos em intervenções policiais, mais que o dobro das 35 mortes registradas em 2022. Crianças negras são a maioria entre as vítimas. Entre os casos recentes, Gregory Ribeiro Vasconcelos, 17, foi morto com sete tiros em Santos, e Ryan da Silva Andrade dos Santos, 4, foi atingido no abdômen enquanto brincava na mesma comunidade. Em ambos os casos, os PMs envolvidos não usavam câmeras corporais.
O aumento contrasta com a queda de 66,3% nas mortes de jovens entre 2019 e 2022, período em que o uso de câmeras foi ampliado. Apesar disso, Tarcísio de Freitas tem defendido a substituição dos equipamentos que gravam ininterruptamente por câmeras acionadas manualmente. Especialistas alertam que isso pode reduzir a documentação de abordagens policiais.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública afirma que não compactua com desvios de conduta e que pune casos com rigor. No entanto, entre 2022 e 2024, o número de autos de prisão de PMs caiu 48% e a abertura de conselhos de disciplina, 46%. A Corregedoria da PM também perdeu autonomia para afastar policiais envolvidos em abusos.
O governo argumenta que está ampliando o uso de câmeras e que a mudança na tecnologia visa melhorar o monitoramento. No entanto, críticos apontam que a flexibilização das regras já tem impacto na letalidade policial, especialmente contra adolescentes e jovens negros.