Diretoria de Comunicação da Uerj
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) concedeu nesta quinta-feira (18/4), em solenidade na Capela Ecumênica do campus Maracanã, o título de Doutora Honoris Causa, o mais importante conferido pela instituição, à ativista das causas LGBTQI+ Keila Simpson. Atribuída a personalidade eminente nacional ou estrangeira que tenha se destacado por sua contribuição à cultura, à educação ou à humanidade, a honraria é recebida pela primeira vez por uma pessoa transgênero em vida.
Em seu discurso, a homenageada lembrou a trajetória no ativismo trans e o apoio inclusive de indivíduos cisgêneros, que ela chamou de “cis aliados”. E fez questão de convidar todas as pessoas do grupo LGBTQI+ presentes a estar com ela na mesa solene. “É uma honra receber essa homenagem. Que a partir de agora, nós olhemos para as pessoas trans com o valor que elas merecem”, declarou.
Um gesto simbólico e significativo
Sara York foi uma das articuladoras para a concessão do título
A doutoranda em Educação pela Faculdade de Formação de Professores (FPP) da Uerj, Sara Wagner York, uma das articuladoras para a concessão do título a Keila, saudou a homenageada e lembrou o significado da titulação outorgada. “Esse gesto da Uerj simboliza o reconhecimento da luta pelos direitos trans que não foram concedidos a muitas de nós”, disse. “Assim como a justiça de gozar de tal prestígio em vida, porque em morte, já tivemos muitas”, completou.
A reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, ressaltou a importância da homenagem para toda a comunidade LGBTQI+ e para a construção de uma cultura de diversidade democrática. “Homenageando Keila, a Uerj resgata um pouco da nossa dívida, de tudo o que não foi feito anteriormente para garantir que essa universidade seja de fato plural e diversa, criando um ambiente de solidariedade e cultura de paz, onde todos possam conviver bem”, frisou ela.
“No resgate da cidadania, eu nunca estive sozinha”
Pioneira no trabalho de prevenção ao HIV/Aids no Brasil, Keila criou, em 1995, a Associação de Travestis de Salvador. Era o início de sua militância ativa. Três anos depois, participou da fundação e ainda hoje é presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), que desenvolve ações para promoção da cidadania de pessoas trans e travestis.
Em 29 de janeiro de 2004, Keila integrou o grupo de ativistas, lideranças transexuais e travestis que lançou a campanha “Travesti e Respeito”, em parceria com o Ministério da Saúde, em Brasília. O objetivo era promover a cidadania dessa parcela da sociedade, historicamente excluída. A data se tornou um marco no movimento LGBTQI+ e foi escolhida como o Dia Nacional da Visibilidade Trans, que gera avaliações e novas reflexões sobre o tema, todos os anos.
A ativista é uma referência nacional por sua atuação na luta por políticas públicas inclusivas e o combate ao preconceito e à discriminação das pessoas trans e travestis. Essa representatividade foi reconhecida pelo Governo Federal em 2013, quando ela recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos da então presidente da República Dilma Rousseff.
“O título Honoris Causa celebra uma vida dedicada ao ativismo individual e coletivo de uma pessoa que não conseguiu estudar por conta da transfobia e do bullying escolar. Diz muito sobre meu trabalho, mas precisa dizer muito mais: é preciso que a gente também reflita sobre quantas pessoas trans e travestis não receberam nenhum título”, conclui Keila.