Profissional traduziu até o momento mais importante: o choro do bebê. Foi a primeira vez que um parto teve esse tipo de comunicação no Hospital Materno-Infantil; exames apontaram que criança não tem deficiência auditiva.
Por G1 Bauru e Marília
Um parto realizado em Marília (SP) se tornou um exemplo de inclusão. O casal que é deficiente auditivo contou com a ajuda de uma intérprete de Libras durante todo o procedimento e dessa forma pode se comunicar com a equipe médica.
Esse foi o primeiro parto realizado com esse tipo de comunicação e esse reforço da equipe médica do Hospital Materno-Infantil.
A expectativa pela chegada do bebê, que recebeu o nome de Paulo, foi grande, assim como toda chegada de um filho. Mas, o silêncio que permeia a vida dos pais dele, exigiu um planejamento diferente.
Os pais Marcelo Salviano Souza e Eliane Aparecida Silva são surdos e não conseguiam se comunicar com os médicos. Por isso, no dia do parto, o hospital resolveu escalar mais um integrante na equipe para que todos pudessem dividir esse momento e expressar os sentimentos.
A intérprete de Libras – a Língua Brasileira de Sinais – conta que foi a primeira vez que participou de um parto.
“Foi fantástico, eu tenho 18 anos de intérprete e foi meu primeiro parto interpretado. Então, eu fiquei muito feliz. É uma emoção que não tem como te explicar, porque você poder passar calma para paciente. Ela depende da comunicação para manter calma. Foi um parto muito humanizado mesmo”, diz Luci Mayer Fiorentino.
Eliane e o Marcelo não são pais de primeira viagem, mas o Paulo é o primeiro menino dos dois. E graças ao trabalho da intérprete, eles puderam entender tudo o que acontecia pela tradução do que os médicos falavam e puderam se comunicar com a equipe, o que tornou o nascimento do menino muito mais tranquilo.
Nascimento
A cirurgia foi um sucesso, e em uma hora o pequeno Paulo veio ao mundo para alegria da Eliane e do Marcelo. Também com a ajuda de uma intérprete amiga do casal, Eliane pode contar para equipe de reportagem da TV TEM como foi a experiência.
“A comunicação foi muito boa, foi a melhor, porque a gente se comunicando, a gente consegue entender melhor as coisas. Eu fazia as perguntas em libras e ela falava com os médicos, e quando os médicos falavam comigo ela interpretava.”
Marcelo também falou sobre o sentimento da família com todo esse esforço da equipe na hora do parto.
O médico Edson Oliveira Miguel foi o médico responsável pelo parto. Uma experiência única e emocionante também para ele e para a equipe médica.
“Foi a primeira vez que eu assisti um paciente com um intérprete em 40 anos de experiência. Foi extremamente gratificante para mim e para equipe que atendeu junto comigo. Para o aprendizado tanto do aluno e do residente que me acompanharam e pelo fato de que nós nunca conseguimos nos comunicar tão adequadamente com um paciente como nós nos comunicamos com o intérprete.”
A intérprete traduziu até o momento mais emocionante do parto, que foi quando o bebê nasceu e deu o primeiro choro.
“Eu falei nenê chorando, chorando, nenê nasceu feliz. Aí eles ficaram felizes também. O pai até chorou e eu também chorei. Todo mundo acabou ficando emocionado e até a equipe médica se emocionou”, lembra Luci.
O momento do parto ficou eternizado nas imagens e também no coração de quem participou. Um incentivo para que mais ações como essa sejam feitas nos hospitais.
“Tem 25 anos que eu acompanho essa comunidade surda na cidade de Marília. E o que eu vejo hoje seria inatingível há cinco anos. A postura da equipe médica que aceitou a intérprete, a postura de tratar essa pessoa como humano mesmo”, destaca Erica Elaine Porto, que também é intérprete de Libras.
O casal, agora, está focado em cuidar do mais novo membro da família.Paulo nasceu saudável e daqui alguns anos poderá ser o intérprete dos pais, pois os exames apontaram que ele ouve perfeitamente.