Ministro da Educação confirma nome alinhado a evangélicos para secretaria-executiva

Iolene Lima é a terceira ‘número 2’ do ministério em apenas quatro dias

Renata Mariz e Natália Portinari

14/03/2019 – 10:31 / Atualizado em 14/03/2019 – 19:17

 

BRASÍLIA – Um novo movimento no Ministério da Educação(MEC), palco de uma crise que se arrasta há uma semana, levou Iolene Lima ao cargo de secretária-executiva . Ela é ligada a Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios, uma organização não-governamental, e tida como um nome mais palatável ao grupo conservador. Iolene vai ser a terceira pessoa a comandar, somente nesta semana, o departamento considerado vital para o funcionamento da pasta.

Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, confirmou o nome de Iolene para a Secretaria Executiva nas redes sociais na tarde desta quinta-feira. A comissionada está no MEC desde janeiro como diretora de capacitação técnica, pedagógica e de gestão de profissionais na Secretaria de Educação Básica. Ela também atua como substituta eventual da titular, Tânia Leme.

Até segunda-feira, o secretário-executivo era Luiz Tozi, demitido após ter sua cabeça pedida pelo escritor Olavo de Carvalho . No lugar dele, foi nomeado Rubens Barreto da Silva, que também passou a ser atacado pelos grupos ligados ao escritor. Agora, Iolene Lima deve assumir, numa tentativa de o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, de manter-se no cargo.

Bacharel em pedagogia e especialista em orientação educacional, Iolene é um nome alinhado com a bancada evangélica, exatamente o grupo que vem reclamando de falta de participação no governo, especialmente no MEC. Ela é do Conselho de Administração da Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios. 

No site, a entidade afirma: “Se quisermos construir uma nação cristã livre, precisamos estabelecer fundamentos bíblicos para a Educação, Governo, Economia e Política”. Diz também: “Neste contexto, a educação é uma questão estratégica tanto no estabelecimentos do Reino de Deus quanto no desenvolvimento da nossa nação”.

Iolene ganhou espaço no MEC, onde chegou em janeiro deste ano para ser diretora em área voltada à qualificação de professores do ensino básico, e se tornou mais próxima do ministro. Foi designada como substituta eventual da secretária de Educação Básica, Tânia Leme de Almeida.

Tânia, assim como Tozi e Silva, que deixaram a secretaria-executiva da pasta, também é um quadro que passou pelo Centro Paula Souza, ligado ao governo de São Paulo e que administra escolas técnicas e faculdades de tecnologia. Tozi foi chamado de “tucano” pela ala de “olavetes”, como se autodenominam os seguidores de Olavo de Carvalho. Eles fazem uma campanha nas redes contra a volta da “velha política” aos quadros da Educação. 

A briga entre “olavetes” e outros grupos da pasta, considerados mais técnicos e menos ideológicos, é associada a exonerações e movimentações que ocorrem desde sexta-feira, e atingiu a secretaria-executiva, até então tocada por Tozi.

Segundo pessoas próximas, Iolene foi indicada para o cargo pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em uma tentativa de apaziguar as brigas entre seguidores de Olavo de Carvalho e militares, que têm dividido a pasta. O próprio Onyx é evangélico.
O presidente interino da Frente Parlamentar Evangélica, Lincoln Portela (PR-MG), nega que a indicação de Iolene seja da bancada. A posição da maioria dos deputados que participam das reuniões é de que a frente mantenha uma posição de independência perante o governo.
Alguns querem oficializar a independência em uma carta assim que a frente eleger um presidente neste ano. Outros, como Marco Feliciano (PODE-SP), vice-líder de governo na Câmara, discordam da proposta.
— A insatisfação (dos evangélicos) é que colocam na nossa conta que somos coadjuvantes de um governo que está fazendo um monte de besteira. Não vamos ficar reféns de um governo que bate cabeça o tempo todo — diz Sóstentes Cavalcante (DEM-RJ).
A influência de Olavo de Carvalho no Ministério da Educação, por exemplo, não é bem-vista entre os parlamentares. O MEC é especialmente importante para a bancada devido ao movimento Escola sem Partido, que tem mobilizado os evangélicos na Câmara dos Deputados no último ano.
— Olavo de Carvalho é preconceituoso contra religião. Nós temos simpatia ideológica de direita, mas não com pessoas preconceituosas. Nenhum evangélico vai gostar de um cara desses, grosseiro, que fala palavrão o tempo todo — diz Sóstenes.

 

Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/ministro-da-educacao-confirma-nome-alinhado-evangelicos-para-secretaria-executiva-23521774?fbclid=IwAR02X03_QxoMe8ImuHZtPr1Zn0ntk8rzNBnrnb77zLkTY1gRzgqVIWBMdLk